Raízes no Ar – Conceito

 

O projeto Raízes no Ar surge no âmbito do Mestrado em Música Performance no instrumento Cavaquinho Português no departamento de Comunicação e Arte (DECA) na Universidade de Aveiro.

Este pretende ser um projeto artístico multidisciplinar, com base no cavaquinho português e onde o mesmo possa surgir como elemento central, num contexto de instrumento solista. Pretende-se assim envolver e mostrar o cavaquinho numa performance de contexto atual, rico e diversificado: a nível artístico, da composição musical e até mesmo no que diz respeito às tecnologias envolvidas.

Este é também um projeto artístico inspirado nos estudos da Suzanne Simard que comprovam que as árvores de uma floresta criam autenticas redes neuronais por baixo da terra através das raízes. As raízes de cada árvore estão interligadas a todas as outras por um elemento omnipresente e comum a todas elas o solo (segundo ela “… as raízes e o solo são realmente a fundação da floresta…”).

De acordo com Suzanne Simard, “no subsolo há um mundo infinito de caminhos biológicos, que conectam as árvores e que lhes permite que comuniquem entre si, e que permite que a floresta se comporte como se fosse um organismo único. Pode remeter-nos assim para uma forma de inteligência… Esta rede é tão densa que apenas um mero passo/metro debaixo do solo pode ter influência num raio de centenas de quilómetros… não apenas em indivíduos da mesma espécie, mas também entre espécies diferentes, funcionando de forma semelhante à internet … com ligações e nós (nodes and links). Em um dos seus estudos, recorrendo à analise de pequenas sequências de DNA, foi possível ela fazer um mapa desta rede com as respetivas ligações e nós. Neste mapa consegue-se identificar também e claramente as chamadas árvores mãe que, segundo ela, podem estar ligadas a centenas de outras árvores.

Suzanne Simard comprovou também com várias experiências, que as árvores mãe enviam diferentes tipos de partículas/sinais às outras árvores aumentando a sua capacidade de sobrevivência por mais de 4 vezes.

Igualmente se comprova nos seus estudos que as árvores estabelecem relações de preferência para com as árvores filhas (árvores que nascem das sementes da respetiva árvore mãe), enviando, por exemplo, mais carbono pelo solo para estas e “reduzindo mesmo a sua própria luta/competição entre raízes para criar uma espécie de espaço de conforto/proteção para as ‘árvores filhas’“.

Através de experiências foi verificado também que, “quando as árvores estão lesionadas ou estão a morrer, enviam uma espécie de mensagens de sabedoria às gerações seguintes das suas sementes, que vai permitir que estas sementes fiquem mais fortes, resistentes e resilientes a qualquer possível stress futuro“.

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Assim surge portanto o nome e temática do meu projeto Artístico: Raízes no AR, inspirado nestes estudos de Suzanne Simard, e no facto de grande parte da música que toco ser muitas vezes também ela inspirada na comummente apelidada música das raízes (uma vez que tem influência em algumas das práticas musicais dos nossos antepassados, nossas raízes, pessoas que nos deram origem na nossa árvore genológica).

Sendo que uma das vertentes que mais aprecio na música é a sua capacidade de estabelecer ligações entre mim e a audiência e da audiência entre si, ao ser confrontado com este estudo estabeleci logo uma ligação entre o que se passa numa performance músical através do ar e o que se passa entre as árvores através do subsolo.

Este pensamento pode ainda ser estendido ao que se passa na vida entre as pessoas em termos de relações e interações sociais/humanas, ou até mesmo ao que se passa num cérebro de um ser humano (às redes neuronais que se criam ao longo da vida), tudo aparenta ter um comportamento semelhante ao das redes inteligentes.

Fazendo uma analogia/extrapolação do mundo da floresta para o mundo dos seres humanos, o equivalente às raízes das árvores, que comunicam e emitem mensagens diversas, será o cérebro humano que igualmente se conecta com o mundo e com os outros humanos de forma semelhante, o canal de comunicação que nas florestas era o SOLO será agora o AR daí o nome: Raízes no AR

Ora sendo o meu mestrado em performance num instrumento também ele “das raízes” o Cavaquinho Português, o som que ele vai produzir e espalhar pelo AR será um som que com alguma probabilidade remeterá para as nossas raízes/antepassados, ainda mais se a própria musica for inspirada em músicas ditas tradicionais (melodias tocadas e cantadas pelos nossos antepassados em ambientes de sociabilização diversos).

Como diz a Suzanne Simard, o comportamento das raízes das árvores no solo é semelhante ao das redes de internet, com Ligações e Nós, e ainda com componentes sociais (mãe para filho, entreajuda entre árvores, entre outros já referidos). então dada:

  1. Esta analogia da Suzanne Simard relativamente às florestas (raízes) e tecnologia: internet, redes sociais.
  2. Sendo que sempre fui muito interessado nas performances musicais na ligação entre o performer e o público.
  3. Sendo que, para além de músico, sou Engenheiro de Telecomunicações,
  4. Aproveitando o facto de saber que em qualquer concerto dos nossos dias praticamente todas as pessoas têm sempre um telemóvel consigo.

Surgiu a ideia de aproveitar a mais valia do meu conhecimento tecnológico, para potenciar a comunicação entre o performer e o publico recorrendo à tecnologia e aos conhecimentos tecnológicos privilegiados que tenho, fora do âmbito musical.

É assim que surge a ideia da construção de um software que, tal como o som (através do AR), mas agora sob uma forma tecnológica, potencie a existência de mais um patamar de conecção entre as “raízes humanas” (os cérebros humanos).

 

 

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